Há exatos 100 anos, o quadro de mortalidade infantil na Bahia era preocupante. A cada 100 crianças nascidas, 40 morriam antes mesmo de completar seu primeiro ano de vida. Com o intuito de modificar essa realidade, o pediatra Álvaro Pontes Bahia idealizou, ao lado do seu amigo, o também pediatra Joaquim Martagão Gesteira, e outros cinco integrantes, a Liga Bahiana Contra a Mortalidade Infantil.
O ano era 1923. Cem anos depois, a entidade, que foi batizada de Liga Álvaro Bahia, em homenagem ao seu idealizador, está hoje à frente não somente do Martagão Gesteira, como também do Hospital Sokids, do Instituto de Ensino da Saúde e Gestão (IESG), do Hospital Estadual da Criança (HEC) e do Centro de Referência Estadual para Pessoas com Transtorno do Espectro Autista (CRE-TEA). Esses dois últimos sob contrato de gestão.
Foi justamente a atuação da Liga, criada em 17 de junho de 1923, um dos principais fatores que ajudou e continua a contribuir para modificar essa realidade. “A Liga participou de diversos momentos ao longo desses 100 anos, que nos fizeram assistir a uma redução da mortalidade infantil: de 400 mortos por mil nascidos para os 16,5 por mil atuais. Ainda é um índice que nos incomoda muito, mas também uma razão para continuarmos trabalhando, objetivando sua redução”, frisa o superintendente geral da entidade, Carlos Emanuel Melo.
Somente em 2022, em toda a Bahia, a Liga foi responsável por 69% das cirurgias oncológicas; 42% das cirurgias cardíacas; 40% das neurocirurgiãs e 57% dos tratamentos oncológicos, considerando a faixa etária pediátrica (0 a 14 anos), pelo SUS.
Pioneirismo - Desde a sua fundação, a entidade desenvolveu relevantes ações em prol da maternidade e da infância, que serviram como exemplo de políticas públicas para todo o país. “O principal desafio atualmente é a sustentabilidade. É garantir a sobrevivência de longo prazo. Além disso, enfrenta também a necessidade de estar à frente da evolução tecnológica. Tornar-se líder na vanguarda da inovação e da tecnologia”, acrescenta Melo.
Para a presidente de honra da Liga, Rosina Bahia, o balanço desses 100 anos é “grandemente positivo”. “Instituição pioneira, a Liga sempre procurou desenvolver suas atividades voltada para o bem-estar e para a saúde da mãe e da criança, inclusive com o propósito de que, cuidando da mãe, se estaria cuidando da criança”, avalia Rosina, neta do pediatra Álvaro Bahia.
Um dos principais marcos na história da entidade, frisa Rosina, diz respeito à vanguarda no tratamento da criança de forma científica. “Álvaro Bahia defendeu, de forma sistemática, a saúde das crianças, particularmente as oriundas das famílias mais necessitadas, mudando a forma do atendimento às crianças, anteriormente caritativa, para uma assistência efetiva, com base sólidas, técnico-científicas”.
A presidente de honra cita também outros marcos importantes que ajudaram na redução dos índices de mortalidade, além da criação do Martagão: as instalações modernas realizadas nas dependências da Santa Casa de Misericórdia, onde a Liga atuava com lactário, creches e a Escola para Mãezinhas, entre muitos outros. Em 1937, por exemplo, foi criada a Escola de Puericultura Raymundo Pereira de Magalhães, para prestar assistência às mães e às crianças. Nela, foi instalado o primeiro Banco de Leite Materno do país.